Palavras vazias



Palavras vazias nos são ditas a todo momento, por quem amamos, por desconhecidos. Palavras vazias não preenchem sentimentos ou significados, não devem doer, mas frequentemente nos causam sofrimento. Se podemos discernir entre o nível de qualidade de uma palavra?  Na maioria das vezes não. É por isso choramos e nos magoamos, e rebatemos a realidade com mais palavras vazias. Somos autores delas, somos alvo delas. Por isso resumimos, economizamos nas palavras. 

Luta diária



A luta diária travada no interior de nossos corações muitas vezes extrapola o próprio órgão e invade nossas mentes, nos inundando dos mais variados sentimentos de braveza e consciência. Essa luta compreende o bom senso e a justiça, o mal e o desejado, o insensato e o maravilhoso. Pouco controlamos os exércitos que se deslocam com grande facilidade da direita para a esquerda do peito, por vezes tumultuando um dos lados e latejando a dor do amor. Nossas percepções são imediatamente tomadas de valores e conceitos prévios, que discutem incessantemente pela melhor posição nas fronteiras. As ações e as emoções se golpeiam fortemente, e nesse entrave nos permitem amar, chorar, sentir ódio ou felicidade. A luta diária nunca tem fim, é essência do ser humano, é partícula vital. Razão nenhuma consegue estabelecer a paz, unicamente a ordem provisória e recentemente polvorosa.  

Em busca da evolução


Sempre tratei o assunto de crenças e religião como um tabu, não por acreditar em uma convenção social ou moral, mas por falta de esclarecimento ou coragem para buscá-lo. A diversidade é intrigante e fascinante, ao mesmo tempo em que amedronta quando as informações vão sendo processadas. Tinha a sensação de que mais protegida estaria enquanto menos soubesse - estava enganada. A ignorância é a causa de boa parte de nossos erros e arrependimentos. Percebo que "acreditar" não é ser tolo ou conivente com uma maioria que marcha sem causa. Pelo contrário, a despeito dos soldados que lutam sem ideais, acreditar em uma força maior, na troca de energias e na evolução espiritual é engrandecedor na medida em que as dúvidas reais vão sendo respondidas. A vida tem sim um propósito maior, o qual ainda não compreendo tão bem assim, mas vou vivendo à procura desse desconhecido. A fase do medo já não me paralisa mais, o instinto curioso e pesquisador bate a minha porta pedindo migalhas de comprovações. O tabu vai se dissipando e as crenças direcionando meus passos. 

Pulga atrás da orelha

Em uma conversa despretensiosa, daquelas sem compromisso com tempo ou qualidade dos dizeres, uma pulga se instalou atrás de minha orelha que desde então vem latejando pedindo atenção. O assunto era variado, envolvia viagens, devaneios sobre a vida, desapego material e emocional, metas e objetivos profissionais, pessoais, enfim, um bate papo muito eclético. A troca de ideias fluía muito bem e me coloquei a repensar sobre o que tenho feito, como tenho feito e para que tenho feito. Pronto, a pulga começou a se movimentar aguçando ainda mais o insuportável do meu espírito questionador. Sim, chato mesmo, aquele que me tira da zona de conforto de fazer tudo no "modo automático" sem pensar dos efeitos a longo prazo. As perguntas brotavam em minha cabeça como o vinho brotava em minha taça. O pensamento ia e vinha, ora concordando, ora discordando da retidão do caminho que venho seguindo. E, no ápice da conversa, a pergunta mais avassaladora, desapegada, mas ao mesmo tempo capciosa: vale a pena? Sim, no presente, pois quando partimos para o campo do futuro nada é certeza, nada é concreto, apenas probabilidades. Então foco no presente e na análise dos valores a ele envolvidos. Se vale a pena, sim, então continuo na luta.  Faltam vantagens? Então viro a página e sigo em outra direção. O importante é ser feliz, alguém disse...e a pulga sutilmente pulou para a orelha de outra pessoa. 

A sinceridade do olhar

Um olhar pode revelar mais do que mil palavras e ações, pode permitir ou negar, abrir ou fechar, concordar ou abominar. 

Um olhar pode ser a mais fiel identidade de uma pessoa, aquilo que ela não consegue esconder, muito menos dominar. 

O olhar tem vida própria, quando as lágrimas vem, não há como controlar. Quando a raiva se instala, também o olhar se enrijece. Nos momentos de paixão, um brilho excessivo emana dos olhos que parecem ter a cor perfeita. 

O olhar demonstra sentimentos, aparenta sensações, provoca reações, incentiva decisões, indica o prazer e a tristeza, proporciona dúvidas, aponta a calma ou a angústia. 

O olhar pode ser uma arma, ou uma válvula de escape. Representa a ambiguidade, força e fraqueza, beleza e cansaço, malícia e sabedoria. 

O olhar transmite a mais pura sinceridade, os olhos são a janela da alma. 

Insegurança

Envolvida por um evento isolado em que me peguei um tanto insegura quanto a uma decisão nada difícil de se tomar, me coloquei a refletir sobre o significado e os efeitos desse sentimento em nossas vidas. Percebi que por mera insegurança deixamos de realizar grande parte de nossos sonhos. Recuamos diante de decisões e atitudes sobre as quais já pensamos e repensamos por horas, sobre as quais já temos certeza, apenas não a admitimos. Temos um potencial de reflexão que controlamos perfeitamente enquanto simples pensamentos, mas quando nos deparamos com a necessidade de colocar toda essa reflexão em prática, a insegurança cria um obstáculo ao próprio comportamento. Assumir nossas opiniões não parece tarefa fácil para ninguém, bancar nossas atitudes pode ser um tanto aterrorizador enquanto nos colocamos diante do julgamento alheio. As consequências nos sugam à realidade abruptamente e os efeitos nos fazem buscar a perfeição. Pode-se dizer que a insegurança caminha junto com a responsabilidade, crescendo nos mesmos níveis enquanto no meio social. Ela é inata ao ser humano e deve ser vem moldada ao longo da vida. Todos são inseguros em algum aspecto, seja no relacionamento, seja no trabalho, ou ainda no momento de tomar qualquer decisão de grande importância. Mas esse sentimento deve ser bem dosado sob pena de nos enfraquecer e até mesmo nos anular. Há situações que nos exigem posturas automáticas e impulsivas, para as quais não há espaço para os medos. Percebo que se por um lado a falta de segurança é um freio natural do universo para evitar que tenhamos decepções, por outro representa a estagnação. Devemos trabalhar nosso controle de positividade  para nos sentirmos seguras em tudo o que realizamos na vida. A segurança se relaciona diretamente ao conhecimento, ao domínio da matéria e à capacidade de questionar. Sem ela nossas vidas são lineares e pacatas, porém sem conquistas e sem sucessos! Sem ela não podemos tentar, perdemos a chance de construir, não entramos no campeonato. Por isso, precisamos lutar contra este sentimento, trabalhar nosso controle de emoções e assumir nosso conhecimento com coragem para encarar toda e qualquer consequência de cabeça erguida, afinal, "quem sai na chuva é para se molhar". 

Malabarismo da vida

Uma vez escutei de uma pessoa, que julgo extremamente sensata, que a vida é composta por vários cenários distintos que coexistem e por vezes se sobrepõem. A comparação ficou perfeita com o trabalho de um malabarista que deve manter vários pratos no ar ao mesmo tempo, evitando que caiam no chão. Assim também aconteceria com a vida. Meus pratos representariam a profissão, o casamento, a família, a vida acadêmica, a vida social, a intimidade, a saúde e os filhos. Talvez encontraria outros pratos, afinal, ao longo da vida novas pretenções e responsabilidades vão surgindo. Percebi que há sempre um prato necessitando de maior concentração e dedicação momentânea, aquele que está por cair, mas é impedido de chegar ao chão quando encosta na mão do malabarista, que rapidamente o impulsiona no ar. É preciso manter um equilíbrio constante, o que determina o alcance da satisfação pessoal e da paz de espírito. Impulsos externos poderão afetar a desenvoltura dos pratos no ar, nos exigindo sensibilidade para contornar os obstáculos. Embora exigidos em excesso em algumas áreas, devemos ter a coragem necessária para dosar a dedicação, para detectar o iminente perigo da negligência, para identificar quando reduzir ou aumentar o número de pratos e, por fim, para identificar quando um prato deve ser substituído por outro simplesmente por estar gasto demais. A analogia permanece com a vida, e os pratos se mantém girando em plena harmonia com a gravidade, com o vento e com o coração. 

Brainstorming noturno

Numa noite de sono perdida o pensamento se encontra em ritmo de trabalho árduo. A rapidez dos insights causa tamanha inquietude diante de um universo que não permite desperdício de tempo. Aquele tempo tão escasso durante o dia, incapaz de compilar todos os planos e todas as metas traçadas, na madrugada se mostra infinito. Indiscriminadamente, surgem questionamentos sobre os feitos do dia anterior, sobre as decisões já tomadas e as que estão pendentes de definição, reflexões sobre caminhos escolhidos e realizações. Pessoas vêm à mente, palavras ecoam como prova de comportamentos que não admitem volta. A sensatez cede lugar ao medo e à ansiedade e, num looping de sentimentos, retorna de onde parou, fortalecendo a decisão já tomada. A noite avança, e com ela o brainstorming. Tempestade esta que afasta a zona de conforto, permitindo indagações acerca da natureza, da origem, das conclusões...e então, o dia amanhece. A claridade na janela acende a luz da realidade, afugenta os medos e cicatriza as emoções.