Em memória


Há algum tempo ando me questionando a respeito da legalidade da eutanásia em animais, quando, tratando-se de seres humanos, existe tanta polêmica e rejeição.


Um cãozinho amigo foi sacrificado há alguns dias e, saber que ele foi levado numa clínica para tomar aquela injeção final, estando o pobrezinho vivo como nunca e muito amedrontado, me fez pensar se realmente podemos decidir sobre a vida e a morte dos animais. 

Sabemos que ele estava sofrendo e que não merecia mais viver no estado patológico em que se encontrava, afinal, parecia uma condição de sobrevivência muito limitada para a amplitude daquela vidinha. E foi nesse ponto que me coloquei em situação semelhante. Talvez eu preferisse me desligar da vida antes de sofrer tanto. Talvez não quisesse sofrer a dor física, não quisesse encarar a limitação. Mas talvez também, quisesse enfrentar todos os desafios e me manter viva até a última gota de sangue, até que meu corpo espontaneamente  entregasse os pontos.

Com tanta tecnologia, aparelhos, drogas e tratamentos paliativos, me mergulho na dúvida se tudo será em prol de um prolongamento do sofrimento, ou de um prolongamento da própria vida. Em sã consciência, pensamos que não estamos preparados para viver em estado vegetativo e, nesse momento impulsivo, ousamos dizer que autorizaríamos a eutanásia. Mas e se nessa condição mudássemos de ideia pela esperança de melhorar, mas, impossibilitados de expressar, sofrêssemos o desligamento? E se o cãozinho pediu socorro?

Acredito que na pureza do animal o maior instinto é o da própria sobrevivência, seja na condição que for. Segundo a lei da natureza, na cadeia alimentar seres irracionais decidem sobre as vidas uns dos outros. Mas na condição de seres humanos, me indago se a racionalidade por essência não nos tiraria esse direito.

Enfim, não encontro resposta, me deixo convencer  que ele não merecia mais sofrer, me forço a acreditar que ele está melhor agora, onde quer que esteja, e que saiba perdoar os amigos humanos pela decisão mais difícil que poderiam ter tomado.




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